"A poesia deixa algo em cada leitor: uma sílaba, uma metáfora, um conceito, uma visão do universo. Cada verso é de natural ambíguo, tem duas caras, como certas pessoas que eu conheço, ou cem, ou mil. As palavras não dispõem de apenas uma carteira de identidade; usam várias, como os ladrões ou os contrabandistas. Costumam sair disfarçadas, ou incógnitas, ou fantasiadas como no Carnaval. O demónio da polissemia que habita nelas como uma segunda natureza, torna-as verdadeiros camaleões, que tomam a cor da paisagem ou do instante. São volúveis. Assim, é claro que, antes de variar de leitor para leitor, a Poesia, que se nutre da ineficácia ou da imprecisão das definições que a circundam, varia de poeta para poeta. A cada um exibe uma face particular."
(Ledo Ivo in: A Fábula do Vento)
POEMA DE VENTO E LUA
ResponderExcluir"O vento carrega invisíveis poesias
Escritas em sonos e fantasias.
Beija as flores com charme e
Vai atrevido abraçar a lua.
E ela, toda branca e nua,
Deixa-se levar pelos ares,
Em tardes de sentimento
Bordado em rios e mares.
Oceanos deitados no horizonte
Refletem em todas as esquinas
As travessuras da lua menina
E ela tecendo sonhos, suspira
Segredos e romances em cardumes.
Lumes de estrelas enfeitam o céu
Com fitas, gaivotas e pipas
Enquanto a palavra é escrita.
E no fim de tudo, um poema
Falando, inundando o verbo
De adjetivos e paz para que
A vida possa sempre ser mais."
Karla Bardanza