segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Por ai

Comunicado ao amor fugaz
João Campos Nunes

Todo amor merece uma noite inteira de sexo.
E que faça frio!
Pois todo amor sabe fazer
do cio de um singelo edredom,
um universo.
Que as bocas mal emitam som,
falando tão baixo que se confundam
os verbos com os gemidos,
e os adjetivos surjam como sorrisos à francesa, e
ao invés de vírgulas
usem-se mordidas nas orelhas
para que assim se excitem os ouvidos.

Todo amor merece uma noite inteira de sexo. ´
E que falte luz!
Pois todo amor sabe descortinar
no escuro a sua volta, o futuro.
E que as pupilas se dilatem tanto
que seja possível, aos dois nus,
enxergarem-se azuis,
apenas para que se confirmem
exatamente aonde gostariam de estar,
e se ainda não se crerem lá,
eles tateiem-se até se acharem,
perdidos enfim.

Todo amor merece uma noite inteira de sexo.
E que haja vinho!
Pois todo amor sabe encontrar
nas línguas enroladas, sobriedade.
E que, altos, apoiem o rosto um no outro,
e se guiem pelos mamilos
e se escorem pelos quadris, e,
desinibidos, unam-se tão forte,
entrem-se tão fundo,
caibam-se tão dentro,
que já não haja descaminho.

Todo amor merece engravidar a manhã de amor laranja
pra então adormecer
com os olhos pesados de paz.

Um comentário:

  1. Todo amor merece uma noite inteira de sexo, e vice-versa: todas relações sexuais merece uma noite inteira de amor!

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