quinta-feira, 30 de agosto de 2012

O fim (do que não tinha fim) | Parte III


(03)

Resistiram sóbrios e sozinhos toda data comemorativa que pudesse aflorar qualquer restinho de contrição pela separação. Natal, réveillon, Valentine’s nos States, dia nacional dos namorados, sei lá, Halloween também – podia ser uma data sem nada a comemorar. Aliás, não perdiam uma festa a caráter naqueles Halloweens idiotas. Ela sentia vergonha vestindo diabinha, ele debochava dizendo que combinava, até.

A ausência um do outro já não incomodava como água oxigenada no joelho de feridas abertas. Embora os dois soubessem que o buraco estava lá, num cantinho vazio do coração e no confiscado dilatar de pupilas de cada um. Mesmo após treze meses.

Ainda assim, ela guinou 150 graus na profissão. Formou-se nutricionista e abriu seu consultório com a ajuda do pai. Ele, que ia improvisar uma banda para tocar na festa, nem compareceu à colação de grau. Ele terminou seu processo de reconstrução da autoestima indo até São Paulo assistir ao Radiohead. Ela ficou sabendo. Ambos mudaram e fizeram coisas que nunca imaginaram que fariam – coisas de solteiro, até porque nunca se imaginaram solteiros. Porém, as raras notícias já nem doíam tanto.

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